quarta-feira, 6 de julho de 2011

Namorando Romeu e Julieta


Em busca dos Olhos de Julieta
Quem nunca ouviu falar da mais trágica historia de amor que já existiu, a de Julieta e de seu Romeu? Acho que mesmo que se não conheça bem, todo mundo sabe da historia dos jovens apaixonados que morreram por amor!

Eu ando numa fase muito "Romeu e Julieta" nas últimas semanas. Tudo por causa do romance "Julieta" da Anne Fortier, que despertou novamente em mim todo esse fascinio que sempre tive por essa historia.

Tudo começou no dia dos namorados, quando meu marididinho super fofo me levou numa das minha mega bookstores favoritas pra escolher um livro de presente, e eu, como sempre, fiquei entre diversos das minha listinha dos que mais quero. Já estava escolhendo um deles quando dei de cara com o livro Julieta, com uma capa maravilhosa e um teaser que me fez ler toda a nota da autora no final do livro pra saber se eu realmente gostaria de ler, e foi paixão à primeira vista, ou seria melhor à primeira lida?



Mas para eu explicar o porque de ter amado tanto o livro, é preciso relembrar a lendaria história de Romeu e Julieta.

Romeu e Julieta

A historia é a seguinte: Duas famílias rivais, os Montequio e os Capuleto, vivem em guerra uma com a outra, e sempre rola um barraquinho básico quando se encontram. Romeu, o filho dos Montequio é tipo um playboy que vive aprontando pela bela Verona na compania de seus amigos e primos, e secretamente sofre pelo amor não correspondido de Rosalina, que quer virar freira. Romeu resolve entrar disfarçado na festa dos Capuletos justamente pra tentar se encontrar com Rosalina, mas acaba encontrando Julieta e os dois se apaixonam à primeira vista sem saber quem são.

Após o choque de saber que sua amada é da familia inimiga, Romeu então vai até a sacada de Julieta lhe jurar amor eterno, e sabendo que seu amor nunca seria aceito pelos seus pais, resolvem se casar em segredo. Mas... Sempre tem um mas pra atrapalhar, né?... Mas... Após o casamento, Romeu se encontra com Tebaldo, primo de Julieta, e mesmo fazendo de tudo, não consegue fugir da briga. O resultado é a morte de Mercutio, o melhor amigo de Romeu, que se põe entre os dois rapazes pra tentar evitar que Romeu seja ferido. Mercutio morre após rogar uma praga daquelas pras duas familias. Romeu fica cego de raiva e acaba matando Tebaldo, e por isso acaba exilado.

Como ninguém sabia do casamento secreto, os pais de Julieta resolvem que ela vai se casar com o belo e rico Páris, e não lhe dão alternativa a não ser se casar com ele, mesmo contra a sua vontade (naquela época mulhrer não opinava nada, nem mesmo quando o assunto era com quem ela deveria dormir pro resto da vida). Desesperada, Julieta procura o padre que os casou, o Frei Lourenço, e ele lhe dá uma poção que a fará dormir e parecer morta, para ela poder esperar pelo resgate de Romeu no mausoléu da família, assim os dois fugiriam juntos e poderiam viver felizes para sempre. Mas... Olha o mas aí de novo... Mas, Romeu não recebe a carta enviada por Frei Lourenço, e desesperado, ao saber da morte de Julieta, volta pra Verona, invade o mausoléu dos Capuletos e toma veneno diante do corpo de sua amada. Quando Julieta acorda, Romeu já está morto, então ela não vê outra alternativa a não ser se unir à ele na morte, e se apunhala com o próprio punhal de Romeu.

Essa é a versão que todos conhecem, a versão que foi imortalizada por Shakespeare, mas o que a maioria das pessoas nunca ouviu falar é que essa historia já havia sido contada por outros bardos por pelo menos 200 anos antes da versão shakespeareana, e é apartir dessas versões que a história do livro "Julieta" é construida, e pra melhorar ainda mais, o livro traz uma pesquisa histórica apurada, e não se apega aos clichês, como traduzir os nomes italianos, Romeo e Giulietta, para o inglês/portugues, Romeu e Julieta.

Romeo e Giulietta

Eu já tinha ouvido falar que a lenda havia sido baseada em uma historia real, acontecida um século ou mais antes de Shakespeare escrever a peça, sabia que existia a sacada de Julieta em Verona, aonde as pessoas vão visitar e tirar fotos até hoje, um dos mais importantes pontos turísticos da cidade. Mas não sabia que a lenda já havia sido contada antes e adaptada por Shakespeare.

A primeira dessas versões surpreendentemente não se passa em Verona, mas em Siena, lugar aonde o romance do livro Julieta é ambientado. E segundo o escritor dessa primeira versão, de 1476, Masuccio Salernitano, alegava que ela tinha sido baseada em fatos reais. Nessa primeira versão os protagonistas não se chamavam Romeu e Julieta, mas sim, Mariotto e Giannozza, e o enredo era ligeiramente diferente. Salernitano conta a historia de dois jovens que não eram de familias rivais, mas que se casam em segredo, e as coisas começam a dar errado quando Mariotto mata um ilustre cidadão da cidade e por isso precisa viver no exílio. Os pais de Giannozza, sem saber que ela se casou com Mariotto, exigem que ela se case com outro homem. Desesperada, ela toma um sonífero super mega blaster forte pra se fazer passar por morta e poder então fugir pra encontrar Mariotto. Mariotto, sabendo da morte dela, volta correndo pra Siena, aonde é preso e decaptado por seu crime, e Giannozza passa o resto da vida num convento. o.O

Algumas décadas depois, em 1530, Luigi Da Porto retoma a historia fazendo algumas modificações, a principal é a mudança de Siena pra Verona, e o nome dos protagonistas, que passam a ser Romeo e Giulietta, mas mudando os sobrenomes originais das prováveis famílias envolvidas na historia, para o que conhecemos hoje como os Montequio e os Capuleto. É nessa versão que surge o baile de mascaras aonde o casal se encontra pela primeira vez, e a famosa cena da sacada, além do duplo suicídio. Mas nessa versão, Giulietta não se mata com o punhal de seu amado, mas prendendo a respiração até a morte (então tá, né? o.O). Um outro escritor, chamado Matteo Bandello, em 1554, introduziu vários diálogos melodramáticos à versão de Da Porto, mas sem alterar a essencia da historia. Até então, todas as versões eram italianas, mas começaram a surgir outras versões contadas por estrangeiros, franceses e ingleses, até ser indiscutivelmente imortalizada em 1597 por William Shakespeare.


Giulietta Tolomei e Romeo Marescotti


Anne Fortier pega todas essas versões e monta a possível historia que teria dado inicio à lenda.
Na versão de Fortier, não seriam duas, mas três famílias envolvidas, os Capuleto na verdade seriam os Tolomei, e os Montequio seriam os Salimbeni, mas Romeo seria de uma terceira família chamada Marescotti. Essas três famílias existiam na idade media e eram realmente muito poderosas, e as rixas entre os Tolomeis e os Salimbenis também era real. Na Idade Media, Siena foi palco das mais sangrentas brigas entre clãs rivais.

Nesta versão, (atenção, se você não gosta de spoiler, sugiro pular os próximos parágrafos, e esperar o proximo post que vai falar de Cartas para Julieta) Romeo Marescotti salva Frei Lourenço (que esconde Giulietta Tolomei num caixão) de um assalto na estrada. Romeo escolta o padre até dentro da cidade de Siena, lenvando-os ao ateliê de Maestro Ambrogio (o famoso pintor gótico Ambrogio Lorenzetti) e ao abrir o caixão, vê a linda jovem morta. Mesmo acreditando que ela está morta, ele se apaixona por ela, toma um porre e volta pro ateliê pra choramingar a injustiça divina ao ceifar a vida de uma moça tão linda, e é então que ele descobre que ela está viva, e para vê-la entra no Palazzo Tolomei disfarçado, tal qual a maioria das versões. Os dois se apaixonam e decidem se casar, mas Giulietta é dada em casamento pra selar um acordo de paz com o poderoso patriarca da família Salimbeni, e apartir daí a historia não muda tanto assim da lenda: Romeo é exilado, mas volta pra resgatar sua amada, que achando que ele morreu se suicida, e ele acaba assassinado sobre o corpo dela.
No livro, o pintor Ambrogio Lorenzetti os imortaliza, simbolicamente, como personagens anonimos do afresco "O Bom Governo", aonde os jovens amantes, são separados após Romeo ser exilado.

A grande sacada do livro é que a protagonista contemporânea também se chama Giulietta Tolomei e é descendente da Giulietta que deu origem à lenda. Essa Giulietta vai à Siena resgatar uma herança lhe deixada por sua mãe, e durante a sua caça ao tesouro, vai descobrindo a historia verdadeira de Romeo e Giulietta do passado, além de constatar que Siena não mudou tanto assim desde a Idade Media, que as famílias rivais ainda são as mesmas, e que existe ainda, um Romeo Marescotti, também descendente do Romeo medieval, que ninguém sabe aonde está. E apesar de eu ter feito um resumo e revelado alguns elementos dos mistérios que compõem a trama, esses dois últimos parágrafos estão longe de revelar (e estragar) as supresas do livro.

Vale ressaltar que os principais personagens do Romeu e Julieta shakespeareano também estão presentes no Romeu e Giulietta de Anne Fortier, como o Frei Lourenço, o primo Teobaldo, e até mesmo Rosalina está na trama. Isso sem mencionar a própria cidade de Siena, acompanhada das citações de Shakespeare que já são personagens à parte.


O legal é que tudo indica que vai rolar um filme do livro. Os direitos já foram comprados, e se tudo seguir conforme o esperado, ano que vem, no maximo em 2013, teremos Julieta nos cinemas. Só espero que escolham atores que se encaixem nos perfis e descrições do livro, porque eu detestaria ver os protagonistas interpretados por atores que não tem nada a ver com os personagens!


O Bom Governo: afresco de Ambrogio Lorenzetti diversas citado no livro

Minha fanart inspirada na Giulietta de Maestro Ambrogio Lorenzetti

Mas só pra finalizar, pra quem gosta de romance, mistério, aventura... Julieta é um prato cheio!

Nos proximos posts vou falar de "Cartas para Julieta" e das versões cinematograficas que imortalizaram a obra de Shakespeare ;)


5 comentários:

Anônimo disse...

Adorei suas poupées de Julieta !

Thamara disse...

Adorei sua resenha da lenda! Divertido de ler!
E sou só eu que achei que a primeira versão da história, com Mariotto e Gianozza, é mais trágica? Imagina você ter um marido decapitado e ter que passar a vida inteira em um convento? Eu hein!
Ah, e eu pulei a parte do spoiler, obrigada por avisar! hahahahaha

Mara Sop disse...

Eu tb achei super tragica a historia de Mariotto e Gianozza... Mas, acredite se quiser, a historia montada pela autora consegue ser ainda mais tragica! Mas nem por isso menos envolvente que a lenda que todo mundo conhece...

* . *

Dark-Arcueid disse...

Eu recomendo pesquisar Tristão e Isolda, infelizmente Shakespeare, como muitos estudiosos de literatura inglesa falam, ele raramente escrevia algo original (não que não tivesse, mas muita coisa que ele escreveu era copia de outra história) a maior influencia dele para Romeu e Julieta foi o romance de Tristão e Isolda de várias fontes e versões, não sei exatamente qual que ele usou para seu romance proibido, mas existem diversas e algumas são histórias bem similares ao romance de Lancelot e Guinevere, que na maioria dos casos o rei Arthur[no caso o castelão Marcus e marido de Isolda] sabia do adultério da esposa, mas como a respeitava como amiga e não como cônjuge ele fingia que não sabia de nada e tentava ajudar a esconder para evitar escândalos na corte. (nem todas as versões de Tristão e Isolda são assim, mas muitas são, já os do Rei Arthur até o séc XII praticamente todas são assim pois o amor dele era incestuoso para sua irmã Morgana que eventualmente poderia ser sim a Morgause, mas quase sempre elas eram pessoas diferentes)
Rei Arthur também é uma literatura interessante, tanto os livros contemporâneos quanto os medievais e as transcrições das versões celtas bretãs, meu namorado está escrevendo um romance junto a maior parte das lendas e livros da maneira como ele acha melhor e modernizando algumas coisas(dando mais voz a mulheres fortes e de personalidades diferentes, relembrando assim algumas lendas de mulheres guerreiras do povo celta) como estudo história da Bretanha do período de colonização romana eu tenho um bom material para indicar. Outro interessante é Boudica, mas este pouco fala da moda e da arte, a autora fez um estudo histórico cultural para escrever o romance que é a maior parte do tempo ficcional por não haver relato algum sobre a vida pessoal e a infância da rainha icena antes da morte do marido Prassutagus, da afronta a ela e suas filhas e sua rebelião que quase expulsou para sempre os romanos da Bretanha tribal.

Mara Sop disse...

Já li romances inspirados nas lendas arturianas e em Tristão e Isolda. Adoro!
Comprei recentemente a trilogia da Boudica e pretendo ler esse ano. Obrigada pelas dicas!